segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Fiordes Chilenos

Dia 08 (20/01/2012) - Navimag
Acordamos cedo para o café na pousada Ayentemo, à beira do Lago Llanquehue, em Puerto Varas. Antes de sair, o Ricardo foi procurar a toalha da Débora que, por ser branca como as do hotel, a camareira havia levado por engano no dia anterior. Assim, a Débora agora era a única da excursão com toalha bem limpinha e cheirosa...Às 9h, apenas após 15 minutos e um pedágio, já estávamos em Puerto Montt, em frente à NAVIMAG, para fazer os trâmites de embarque no navio. É necessário fazer um check in, como em aeroporto, despachar as malas, etc. Também para o carro há um trâmite específico e, como não sabíamos se teríamos acesso às bagagens que ficassem no carro, tiramos quase tudo de dentro dele. Muitos turistas chegaram ao longo da manhã e formavam filas para o check in. Nas salas de espera alguns lanchavam, outros dormiam, outros começavam a se integrar. Gente de diversas nacionalidades, idades e estilos diferentes.
Como teríamos que ficar esperando, fomos ao mercado do puerto de Puerto Montt, que ficava ali ao lado. Muitas lojas de venda de artesanatos, roupas de lã e otras cositas e, na parte fechada, muitas bancas de vendas de frutos do mar, peixe defumado e hortifrutigranjeiros.

O Ricardo entrou primeiro com o carro, que foi acorrentado no porão, junto a outros automóveis, muuuuuitos caminhōes, máquinas agrícolas e cargas. Esperamos até às 15h para embarcar em um ônibus que levava até o local do porto onde estava o "Evangelista" e assim, ingressamos no barco, chegamos às cabines, onde já estavam colocadas nossas malas. Recebemos um lanche - sanduíches de queijo e presunto, de galinha, frutas secas, chocolates, sucos. Zarpamos com muitas horas de atraso - às 17h.




















Dia 09 (21/01/2012) - Fiordes Chilenos
A noite foi tranquila, o barco não "jogou" muito e dormimos bem. Hoje acordamos com o capitão chamando pelo altofalante para o café da manhã e indicando onde estávamos. Na verdade, o Cascata e o Ricardo já haviam acordado mais cedo para fotografar. O Ricardo foi de havaianas e quase congelou os pés. A temperatura fora do navio de manhã cedo e à noite não é brincadeira, mas perto do almoço e durante a tarde chegou a fazer 17 graus, um tempo lindo e ensolarado, pouco comum na região, segundo a tripulação... A Luísa e o Artur ficaram na cama e não aproveitaram o café, que foi excelente - pão, queijo, presunto, iogurte, maçã verde, sucrilhos, sucos, leite, café, chá, geleias, manteiga, ovos mexidos. Tudo muito bom, exceto pela maçã que estava realmente verde...
Após o café alguns foram olhar a paisagem - milhares de ilhas, muitos montes nevados, pássaros, etc. O Ricardo e a Luísa já encararam o banho, que segundo eles, é bom, mas não muito quente. No outro banheiro a água era muito fria, a Bruna tentou, mas não conseguiu tomar banho. Na metade da manhã o capitão anunciou que havia baleias perto do navio, mas apenas pudemos ver os borrifos junto às ilhas.



Rolou um mate durante o período e os guris tiveram a grata surpresa de poder jogar Wii no televisor grande do bar. O almoço também foi bom- frango, purê, caldo de verduras, pão quentinho, salada de alface americana e vagem, pêssego em calda, sucos, café e chá. Sempre há uma opção para vegetarianos tb. Pela tarde, além de observar a paisagem, visitamos a cabine do capitão e tivemos uma excelente palestra sobre o roteiro da viagem, fauna e flora da região, aliás, foram duas palestras, uma em inglês e outra em espanhol, assim os passageiros que desejavam assistir, escolhiam se iriam ao restaurante (palestra em inglês) ou ao bar (em espanhol). Às quatro da tarde tomamos nossos dramins (menos o Ricardo e o Artur), pois fomos alertados pelo capitão que estávamos no canal de Puluche e em breve entraríamos no oceano Pacífico, pela baía de Ana Pink, assim chamada em função de um navio que tinha este nome e naufragou neste ponto.

O Artur já está um tanto cansado de não poder fazer qualquer atividade física, agora está desenhando... O Gabriel joga futebol no computador. As gurias olham os DVDs que trouxeram, os demais variam entre olhar a paisagem, passear pelo barco, conversar. O Cascata não larga nunca o posto em frente ao barco, fotografando. Várias vezes o capitão anunciou que havia baleias, todos saíamos para o convés, mas somente foi possível ver esguichos e o dorso de uma ou outra , mesmo assim, não muito perto do barco.

Ao entrarmos em mar aberto começou um período bem difícil de enjoos (o Artur acabou aderindo ao dramin), derramação de coisas e necessidade de muito cuidado com a bandeja da janta - espaguete à bolonhesa, salada de alface e tomate. No restaurante passaram o filme A Marcha dos Pinguins e no bar um bobajóide americano. Foram 12h de mar aberto e "jogação total" . A Débora e a Luísa não conseguiram dormir, a Bruna dormiu pouco, a sensação de que o barco iria virar ou se quebrar ao meio era muito grande, tudo rangia e batia. Foram mais uns dramins e várias passeadas no restaurante e banheiro durante a longa madrugada, que somente acabou pelas 7h, quando entramos em águas mais calmas.


Sobre o navio "Evangelistas" da NAVIMAG - é um ferry de carga, adaptado para passageiros, mais comum na Europa. Leva carga, caminhōes, carros nos andares de baixo - segundo o responsável, são mais ou menos 100 veículos nesta viagem, na maioria grandes caminhões. Há três andares superiores com cabines duplas ou quádruplas. As cabines variam de acordo com: ter janela ou não, ter banheiro privado dentro ou no corredor e não ter banheiro privado. Além disto, há um andar com camas nos corredores, com banheiros compartilhados. Cada pessoa tem sua chave de um armário, da cabine e do banheiro. Dos 205 passageiros e 49 tripulantes, éramos os únicos brasileiros. Ficamos sabendo disto quando, no primeiro dia, em uma palestra obrigatória sobre segurança a bordo, o comandante citou todos os países de origem dos passageiros e cada "delegação" era aplaudida. A maioria esmagadora era de alemães, havia inglês, estadounidenses, alguns argentinos, chilenos, suíços, italianos, uma peruana, dois japoneses, uma polonesa, uma cidadã de Sri Lanka, um casal da Finlândia etc. Estão incluídas 3 refeições para todos. Há serviço de camareiras que limpam e arrumam quartos e banheiros. Alguns tripulantes-guias, poliglotas fazem palestras e atendem os passageiros. Há um restaurante e um 'pub', este tem mesas para jogos, sofás e poltronas. Dois telões para palestras e duas tvs grandes nestes dois ambientes informam em tempo real a localização do barco por GPS. O restaurante e o bar são as duas únicas áreas de convivência internas, as demais são externas. Isto não é um cruzeiro, como a tripulação e, mesmo os guias da região, frequentemente dizem, ou seja, não há luxo, mas é tudo bem confortável. Duas passageiras italianas são deficientes físicas, uma usa muletas e a outra é cadeirante. Elas estão em uma cabine na nossa frente, adaptada, mas as demais áreas não são muito acessíveis. Não há elevador, por exemplo.

Dia 10 (22/01/2012)
Às 8h o capitão avisou pelo sistema de áudio que o café estava servido e que muitas, muitas baleias rodeavam o barco. Levantamos, tomamos café e seguimos para fora, onde vimos mais esguichos. O Cascata fotografou alguns leões marinhos nadando em frente ao navio. Às 10h tivemos uma reunião com o capitão, onde nos foi explicada uma pequena alteração que seria feita no roteiro - ao invés de vermos o glacial Pio XI, veremos outro, menor, mas mais de perto. Isto foi necessário em função de um atraso durante a noite - diminuíram a velocidade em mar aberto para ser mais tranquilo (!!!!!!!!!!). Também soubemos que seria possível desembarcar na localidade de Puerto Éden, onde quem quisesse descer teria de pagar 5 mil pesos pelo transporte em barco local até a margem. Parece que todos irão, pois formou-se uma grande fila para reservar o passeio. Em Puerto Éden vivem os últimos nativos da tribo Kawaskar (menos de 15 pessoas) e mais uns 150 habitantes. Seus únicos meios de contato frequente com a civilização são este barco (que leva mantimentos) e tb os navios da marinha chilena, que tem uma base no local.

Durante a reunião, foram felicitados dois passageiros aniversariantes, cada um deles ganhou um abraço e uma torta do capitão, um casal de colombianos que completava 45anos de casamento e outro casal que estava em lua-de-mel, estes casais ganharam uma garrafa de vinho. Todos os passageiros foram convidados a cantar, ao mesmo tempo e cada um na sua língua e estilo, um "Parabéns". Foi interessante e divertido. Cantamos o Parabéns Gaúcho. A temperatura durante a tarde girou entre os 16 graus e novamente foi um dia muito ensolarado. Estávamos no Canal de Messier, onde fomos rodeados por muitas baleias mink.

O almoço foi uma carne ao molho de champinhon e uma torta de legumes, salada de milho e alcachofra. Pela tarde vimos golfinhos, cormorões e mais esguichos de baleias, além do navio Capitão Leônidas, que está encalhado desde 1968, em uma rocha, na Angostura Inglesa... A história deste encalhe é curiosa: dizem que estava carregando açúcar do Brasil para Valparaíso, mas os tripulantes quiseram ganhar o valor do seguro do navio. Assim, venderam toda a carga em Buenos Aires, batendo propositalmente na pedra, acontece que, inesperadamente, o barco não afundou, então, perderam tudo!

Segundo os guias da NAVIMAG, foi algo totalmente inesperado ver tantas baleias nestes canais, normalmente elas aparecem em menor número e somente na parte de mar aberto. O ponto alto do dia, além das baleias, foi o glacial Iceberg (este é realmente o nome dele), surpreendente em seus azuis e pedaços de gelo caídos na água. O Evangelistas parou bem perto do glacial. Jantamos (merluza com batatas, salada de ervilhas e tomates) às 18h45, para podermos desembarcar no povoado de Puerto Éden, onde caminhamos por aproximadamente uma hora.

O lugarejo é realmente um paraíso, paisagem lindíssima, casinhas coloridas muito simples à beira do canal e junto a enormes montanhas com alguns picos nevados. Não estava muito frio. Foi interessante ver, de longe, enquanto aguardávamos na fila para descer do navio, alguns pontinhos cor de laranja se deslocando pela vila - já eram alguns passageiros do navio, com os chamativos coletes salva-vidas. O pequeno porto do local é muito bonito, uma construção moderna em madeira, com placas solares para iluminação, indicador de terremoto e tb de vias de evacuação em caso de tsunami. Aliás, este indicativo de evacuação encontra-se por todo o sul do Chile, especialmente na ilha de Chiloé. Alguns dos poucos habitantes ofereciam artesanato, feito de conchas, madeira e de um capim, em barraquinhas dispostas ao longo da passarela que circula todo o povoado e por onde caminhávamos. A escola é um prédio que se destaca dos demais, pelo tamanho e tipo de construção. Há roseiras, muitos brincos-de-princesa e várias outras florezinhas nativas. Segundo a palestra que assistimos no dia anterior, atualmente apenas tem 9 alunos. Alguns moradores do lugar embarcaram no Evangelistas para ir até Puerto Natales, inclusive uma moça com um bebê. Também houve alguns passageiros que vieram conosco e desembarcaram em Puerto Éden, um deles era 'carabinero de Chile'. Na semana passada foi instalada a primeira antena para telefonia celular no vilarejo. O Cascata conseguiu ligar para Porto Alegre. À noite, para despedida, no pub, foi organizado um bingo, que parece ter sido bem divertido e logo após, aconteceu uma festa. Nós compramos um vinho e ficamos no restaurante, vendo algumas das fotos tiradas e discutindo a sequência da nossa viagem. Muitos grupos estavam fazendo a mesma coisa, cada um com seus guias e mapas diferentes. Ouvimos muito pouco barulho, mas a festa foi até às 3 da madrugada.

Dia 11 (23/01/2012)
O dia amanheceu bem diferente dos anteriores - frio e nublado. Até mesmo choveu um pouco por algum tempo. Após o café tivemos uma excelente palestra sobre as expedições inglesas ( Darwin e outros) e sobre glaciologia, no pub às 10h. O almoço teve lombo de porco e arroz primavera. Foi bom! Preenchemos fichas de avaliação dos serviços e recebemos envelopes para colocar a 'propina', opcional, mas sugerida em torno de 10 a 15mil por pessoa !!!!! À tarde fomos orientados a descer as bagagens para o carro, assim, poderíamos sair do navio antes dos demais passageiros que não estão motorizados. A estimativa é chegar a Puerto Natales por volta das 19h. O último trajeto do barco é através do Passo White, que tem apenas 80m de largura e que exige condições especiais de tempo e correntes para que se possa passar com um navio deste tamanho. Como está ventando muito, espero que não aconteçam problemas... Ficaremos esta noite na cidade e pretendemos ir ao Torres del Paine amanhã cedo, para permanecer por 2 ou 3 dias, temos que ver o que será possível fazer, já que o parque está semi-fechado em função do grande incêndio que houve no início do mês, em que 6 bombeiros morreram. Já conseguimos saber que alguns campings em que desejávamos ficar foram incendiados....

A passagem pelo White foi um sucesso. Até abriu um sol, parou o vento e vieram 2 condores para sobrevoar as montanhas ao nosso lado. O capitão e todos os seus auxiliares estavam muito atentos, neste momento, impediram a entrada na cabine de comando.




Chegamos em Puerto Natales às 19h30, mas demoramos mais de uma hora para sair do ferry, pois era necessário descer muitos caminhões, carros, máquinas agrícolas, etc. Enquanto isto ficamos aguardando dentro da nossa van, onde já tínhamos levado as malas. Ao sairmos ainda foi necessário fazer uma papelada burocrática que demorou mais uns 15 minutos. Logo depois o Ricardo e o Cascata foram se informar em alguns hotéis sobre acomodação para aquela noite. Acabamos ficando na Posada Los Glaciares, perto do porto, aliás, tudo na pequena cidade acaba ficando perto. Puerto Natales está muito bonitinha, uma cidade com vários restaurantes, pousadas, casas de artesanato, tudo girando em torno do turismo. A temperatura estava baixa, jantamos bem. A noite no hotel foi muito confortável - tudo quentinho, calefação, excelente banho e cama. As crianças estavam felizes, tínhamos internet por uma noite!

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