quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Huanchaco

Dia 14 de janeiro, terça
Após percorrermos 326km desde a saída de Huaraz, chegamos no Hotel Hunkarute, à beira mar, em Huanchaco, balneário de Trujillo, pelas 16h. Logo avistamos os tradicionais caballitos de totora, canoas feitas pelos indígenas com a fibra da totora, a exemplo das ilhas do Titicaca. Lugar bem agradável. Entusiasmados com o mar, alguns correram para colocar roupa de banho e, assim como foram, também rapidamente voltaram, decepcionados com a orla pedregosa, que machucou alguns pés. O jeito foi aproveitar a piscina do hotel. Huanchaco é uma praia de mar frio, muito procurada por surfistas. Os calçadões na beira mar são floridos e bonitos para um passeio. Jantamos em restaurante na orla, bem perto do hotel.


Dia 15 de janeiro, quarta
O dia amanheceu nublado, alguns pelicanos voavam sobre o mar. Dos quartos podíamos assistir, desde cedo, alguns surfistas nas longas ondas. A temperatura no balneário Huanchaco fica sempre em torno dos 25ºC, à noite o ventinho é mais frio, agradável para dormir. Após o razoável café da manhã saímos para conhecer Chan Chan e seu complexo de templos, ligados à civilização Chimú, que fica a 5km do nosso hotel. A extensão de todo o sítio histórico é de 20km quadrados.Trujillo cresceu muito perto das ruínas da cidade de Chan Chan, chegando a invadir seus limites e, em função de não haver uma proteção eficiente para o lugar, a UNESCO, que o declarou Patrimônio Histórico da Humanidade em 1986, não auxilia este complexo, infelizmente. Há bastante dificuldade de manutenção e, ainda mais de continuidade dos trabalhos arqueológicos, que frequentemente iniciam e param por falta (ou desvio) de verbas. Ao ingressarmos no local indicado, avistamos ao longe algumas paredes de argila meio despencadas, situadas numa planície desértica perto do mar. A expectativa era baixa. O sol começou a castigar, o protetor solar, os óculos e bonés eram imprescindíveis. No centro de visitantes, onde compramos os ingressos ($10ns para cada adulto, com direito também ao museu e às Huacas Esmeralda e Arco-Íris) havia banheiros, algumas lojinhas de artesanato e um cachorro sem pelos, com pele muito escura - parecia pele de elefante. Fomos informados que esta raça é muito antiga, os animais inclusive são conhecidos como "perros peruanos" e figuram nos desenhos das cerâmicas descobertas pelos arqueólogos. Hoje em dia há um regulamento indicando que em todo sítio de interesse histórico do Peru devem haver estes cães, pois eles estavam sendo rejeitados pelo povo em função de sua aparência, nada bela. Bem, voltando a relatar sobre Chan Chan, contratamos o excelente guia sr. Harold, que nos explicou todo o 5º palácio, que é o que está aberto à visitação. Incrível, bem conservado, detalhes em alto relevo, praças cerimonias extensas, poços enormes de água doce (proveniente do rio próximo), altares para oferendas (havia sacrifícios humanos para invocar chuva e fertilidade), salas para os sacerdotes se adornarem antes das cerimônias, armazéns para guardar alimentos, etc. O culto do povo Chimú era para a Lua (diferente dois incas e povos dos Andes, que adoravam o sol), elemento considerado central no seu cotidiano por influir sobre as marés e outros aspectos da natureza. Os desenhos em alto relevo representam pássaros, peixes, serpentes, ondas do mar, redes de pesca e indicam a saída do labirinto que se forma dentro dos espaços mais privados do palácio. O povo morava nos arredores do palácio. O complexo de Chan Chan tem muitos palácios porque cada um deles era feito para um soberano, assim que este morria, era enterrado no interior dele com seus servos, esposa, concubinas, músicos e bailarinos, todos sacrificados após participarem do cortejo fúnebre. Chan Chan foi toda construída em tijolos de adobe e é considerada a maior cidade deste tipo no mundo. Existem muitos outros palácios a serem explorados, que estão sendo lentamente limpos - camadas de areia cobrem as construções - e não há previsão de que sejam abertos para o turismo. Em seguida o guia Harold nos acompanhou, na van, até o Museu, que expõe peças achadas no complexo e explica a linha de tempo dos povos que viveram na região norte do Peru. Fomos também conhecer com Harold os templos, ou Huacas, Esmeralda e Arco-Íris que já estão dentro do centro de Trujillo, cercados e, claro, com perros peruanos na recepção. Outra curiosidade de todas estas construções da cultura Chimú (e também dos Moche, como veríamos posteriormente) é que nunca usavam escadas, somente rampas, para acesso fácil, especialmente dos serviçais que carregavam o soberano sobre os ombros em liteiras, pois ele nunca caminhava. Deixamos o sr Harold no centro, após pagar-lhe $110ns e nos tocamos para a Huaca de la Luna, grande legado do povo Moche, que foi precursor dos Chimú e cujo sítio fica um pouco mais afastado do mar, mas junto a um rio. Ali, atualmente, numa paisagem também desértica, pode-se visitar este templo e um lindo e bem organizado museu, com muitos objetos em ouro, cerâmicas pintadas, adornadas, maquetes de templos, vídeos explicativos, etc. A característica dos templos desta cultura era de construir, a cada período de 80 a 100 anos, um novo templo, sobre o antigo, recheando o anterior com tijolos e aumentando a área da construção para os lados, de forma que o envolvesse todo. A visão da grande pirâmide a partir da praça de rituais, com suas paredes escalonadas e pintadas em vermelho, amarelo, branco e cinza impressiona. A altitude da pirâmide é de 21m e ela tem 87m de lado. Em cada andar um tipo de representação com detalhes em relevo - guerreiros que seriam sacrificados, nus, amarrados uns aos outros por cordas no pescoço; deuses; serpentes; dançarinos, etc. Quase todas as ruínas foram saqueadas ao longo da história, o que sobrou de valor foi o que estava muito escondido, sob muitas camadas de construção ou de areia e, quando descoberto, é colocado em museus junto aos sítios. Os guias, nestes locais, são imprescindíveis, a moça que nos explicou este local foi bastante esclarecedora. Diferente do rapaz que nos guiou em Chavín, estes guias do litoral são bem uniformizados. Empresas privadas mantém e exploram as ruínas de Chan Chan e a Huaca de la Luna. Depois destas visitas já tínhamos bastante ideia das culturas chimú e moche. À noite jantamos no restaurante My Friend, próximo do hotel, bom e bem barato, onde os clientes são, além de alguns locais, surfistas que vêm em busca das famosas ondas peruanas. No restaurante havia um indicativo de "zona segura em caso de sismos", assim como vimos inúmeras rotas de evacuação em caso de tsunamis.




Dia 16 de janeiro, quinta
Saímos pelas 9 horas pela Panamericana Norte, onde a 60km, perto de Chicama, está a região de El Brujo. O local tem este nome porque ainda hoje é ponto de cerimônias de xamãs e bruxarias. O guia local nos falou que a questão da bruxaria, com objetivo de fazer maldade, surgiu com a chegada dos espanhóis, pois os sacerdotes dos povos antigos apenas eram curandeiros e xamãs, ou seja, estavam relacionados à mística de buscar interferir em aspectos da natureza com vistas à saúde, agricultura, etc. O complexo arqueológico El Brujo foi aberto recentemente à visitação pública, é administrado por uma empresa privada, tem muita segurança armada - à noite são 12 pessoas. O valor cobrado para cada adulto foi $8ns; como sempre, colegiais e universitários pagavam menos. O local não foi profanado pelos espanhóis porque foi usado como cemitério pela civilização Lllambayeque, posterior aos Moche. A Huaca del Brujo é uma grande construção piramidal escalonada, em adobe, parecida com a que vimos no dia anterior, também relaciona-se à civilização moche e tem um museu que abriga o corpo embalsamado da Senhora de Cao e tudo o que foi achado com ela. Nos depósitos do museu os arqueólogos trabalham em mais de 10 mil peças que ficam guardadas, entre cerâmicas, adereços em pedra, cobre, ouro, conchas e também objetos de madeira. Esta soberana foi uma das raras mulheres a governar um povo na região, morreu muito jovem, por volta de 20 a 25 anos e seus restos mortais foram achados enrolados em 26 camadas de manta de algodão, que, com aos produtos passados na época de seu enterro, as condições climáticas e salinidade (muito próximo ao mar) resultaram numa surpreendente conservação, em que se percebe até mesmo tatuagens na pele dos braços e mãos. O que se vê no museu, além do corpo, painéis explicativos, um vídeo da retirada do corpo (quando houve a participação de um xamã), são as joias e objetos de adorno enterrados com a Sra. de Cao. A lojinha do museu tem objetos bem bacanas com desenhos que fazem referência ao lugar. Na mesma região, totalmente desértica, estão, ainda cobertas de areia e inexploradas, outras duas pirâmides que se avista da Huaca El Brujo. Retornamos ao hotel, onde comemos sanduíches de carne e queijo (com abacate), ceviche muito apimentado e tradicionalmente acompanhado de um pedaço de espiga de milho, aipim e batata doce cozidos. Depois alguns aproveitaram a piscina, outros a internet, alguns ainda deram uma cochilada. O programa de final de tarde foi experimentar os famosos caballitos de totora, junto ao píer no centro da praia. Caminhamos até o local, passando pela muvuca de gente que curtia a calçada da beira mar, comia bolinhos de batata e algo como massa de pastel frita, tudo empapado de gordura, churrasquinhos de várias coisas, inclusive patas de galinha (!) e doces, todos preparados e vendidos em carrocinhas na rua. Os dois pescadores que nos receberam com seus barquinhos para a empreitada explicaram ao Artur e ao Ricardo como os levariam até perto do píer e depois eles viriam sozinhos, remando com um pedaço de taquara - muito original e pitoresco, mas nada eficiente ou fácil. Depois o Cascata também foi. Alguns conseguiram surfar com o caballito, mas tomaram mais caldos na água fria do que deslizaram nas ondas. A Bruna e a Luísa passearam (e se molharam) na carona dos pescadores, que remaram até as altas ondas com elas na "garupa" dos caballitos e voltaram surfando. Muito legal. O valor cobrado foi $15ns para cada um que andou sozinho e 10ns para cada uma das meninas. Várias famílias e grupos de adolescentes brincavam à beira mar na pequena e escura faixa de areia e pedras. Nesta noite conhecemos um pouco do centro de Trujillo, uma grande cidade de 1 milhão e 100 mil habitantes, quando jantamos no restaurante típico El Mochica, onde a maioria pediu lomo saltado ou lomo a lo pobre, mas o Ricardo foi no típico tempero criollo - costillar de cabrito com yuca e frijoles. Ele gostou muito. Foi o restaurante mais caro até então.

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