domingo, 10 de junho de 2012

Chapada dos Veadeiros

Dia 07 de junho - quinta-feira
Encontramos a "Turma da Mônica", ou melhor, Bruna, Gabriel, Cascata e Mônica, na locadora de veículos. Eles saíram hoje cedo de Porto Alegre, com frio de 3 graus e sensação térmica de 4 negativos! Em Brasília fazia 35 graus! O inverno gaúcho promete, neste feriado! Todos eles carregavam muitos casacos na mão. O Cascata tinha reservado uma kombi para os 8 tripulantes desta expedição à Chapada dos Veadeiros. A fila de gente na Localiza era grande e, enquanto esperávamos, a Mônica falava ao telefone para acompanhar o estado de saúde da sua mãe, que havia passado mal em Porto Alegre durante a noite e estava fazendo exames no hospital. Embarcamos na kombi branca, motor de Santana, sem forro no teto, sem ar condicionado, mas com uma folga enorme na direção. Forte e confortável para a nossa jornada de apenas 4 dias. Seguimos para uma pequena sessão de fotos em frente ao Congresso Nacional, a fim de registrar nossa passagem pela capital federal. A família da Mônica havia combinado um encontro com o Cláudio, dindo da Bruna e do Gabriel, que reside há vários anos em Brasília com a esposa, Lorena, e a filha, Junia. O Cláudio e a Junia nos esperaram na estrada, para que os seguíssemos até sua casa, num condomínio à margem da rodovia que era a nossa rota.

Após um chimarrãozinho e uns petiscos na casa dos amigos, continuamos o nosso trajeto Brasília - São Jorge. As cidades satélite são, em sua maioria, bastante pobres. O trânsito fluía bem, estava muito quente. Paramos apenas para abastecer e, infelizmente, também para almoçar, num buffet à beira da estrada que inicialmente parecia que seria bom – fogão mineiro, comida bem caseira. A espelunca era muito suja, desde a toalha da mesa até culminar com o achado de um cabelo que era quase uma peruca inteira, no prato do Cascata!!!
Pelas cinco horas da tarde chegávamos na pequena vila de São Jorge, uma localidade de apenas 500 habitantes e que nestes feriados quadriplica. A vila pertencente ao município de Alto Paraíso, cuja fama é de região mística, centro de meditações e movimentos alternativos, além da cultura da ufologia. A origem da vila se deu com o garimpo de cristal, mas hoje o ecoturismo é a maior fonte de renda, atraindo milhares de pessoas do mundo inteiro em busca de suas trilhas, cachoeiras, paisagens do cerrado, da fauna e flora, mirantes, córregos, rios e poços de água verde transparente.Não tem agência bancária, nem caixa eletrônico, nem posto de gasolina.

A Pousada Cristal da Terra, nos surpreendeu positivamente, pois na verdade, não tivemos escolha, era a única que aceitou nossa reserva, estavam todas lotadas! Nos acomodamos nas 3 suítes - as "crianças" ficaram todas juntas numa tripla, com cama extra. A pousada tem piscina, uma delas, pequena, é de água quente. Nos recomendaram subir um morro perto da pousada, para ver o por do sol, mas chegamos tarde, o sol já havia se escondido quase todo e os mosquitos "batiam" na turistama. Retornando, tomamos banho e depois conversamos com um dos guias habilitados para levar turistas pelas trilhas do Parque Nacional Chapada dos Veadeiros, o Leandro. Ele nos deu algumas opções de trilhas para os dois dias e meio em que pretendíamos ficar pelas redondezas.
Há uma infinidade de lugares para se conhecer, todos eles envolvem banhos de cachoeira, alguns com muita outros com pouca caminhada. A ideia é fazer trilha durante o dia, levando kits de lanche fornecidos pela própria pousada (1 maçã, 1 sanduíche de queijo, 1 barra de cereal ou passa de banana, 1 garrafinha de água) para não perder muito tempo e jantar melhor à noite. Após selecionarmos os passeios - Trilha dos Saltos, Trilha dos Canyions, Raizama, Águas Termais e Vale da Lua - combinamos detalhes de sexta e sábado com o Leandro, que foi bem simpático. Saímos para jantar, num buffet de massas, daqueles que se escolhe a massa, o molho e os ingredientes. Bonzinho e em conta! Passeamos pela ruazinha principal, pouco iluminada e com alguns artesanatos, a maioria de cristais de rocha, hippies vendendo bijus e roupas tingidas, umas três lojinhas mais sofisticadas com variedades, a maioria natureba. O que é bem típico são produtos (licor, paçoquinha) de baru - uma castanha da região do cerrado com gosto parecido do amendoim - e outra fruta típica é o pequi - cujo gostinho lembra o butiá. As camas da pousada também agradaram!

Dia 08 de junho - sexta-feira
O café da manhã da pousada é fantástico, tudo muito apetitoso. A pousada aliás, excelente: limpa, completa, camas e banho bons. O guia Leandro, assim como todos da Chapada, cobra R$ 100,00 por grupo de até 10 pessoas. Formamos um grupo único. Melhor assim, pois desta forma os fotógrafos e as cansadas tinham autonomia para decidir paradas maiores. Não se paga taxa de ingresso ao Parque, que é bem organizado. A estrutura da sede é muito boa, com salas para palestras e estudos, bons banheiros, espaço para exposição de materiais informativos, cartazes, etc. Vários funcionários organizavam a entrada e registravam os dados dos grupos. Não se pode entrar sem guia - a chance de se perder é grande, são muitas trilhas. Não vimos animais durante a caminhada, exceto algumas ararinhas. O guia explicou que esta época os animais não aparecem muito, além de haver muitos com hábitos noturnos. Bem, a Trilha dos Saltos tem 12 km. Foi muuuuito exaustiva! O que mais interferia era o calor excessivo, cansávamos com facilidade! As pedras soltas no caminho eram um convite a virar o pé e as partes da trilha em que havia muitos pedaços de cristal pelo chão faziam o pé afundar a cada pisada, diminuindo o ritmo e tornando a caminhada mais pesada. Nunca tomamos tanta água!


 A chegada às cachoeiras compensa ( Marcação do GPS da caminhada na trilha entre a Portaria e o Salto )
Quando saímos do Parque, ficamos sabendo que ingressaram 570 pessoas no dia de hoje!!!! Algumas atrações da região estão em áreas particulares, visitamos uma delas ainda ao final do dia - Raizama. Neste local se paga ingresso (R$10,00 por pessoa) e são mais 2 km de caminhada até um conjunto de cachoeiras bem bonito, em meio a uma mata mais fechada e cuja visita acaba num cânyon enorme, com precipícios bem perigosos onde filetes de água correm por entre as fendas. Os “meninos” do grupo encarararm mais banhos de água gelada e já não havia sol naquele local para aquecer o corpo, brrrrrrrr. Ainda por cima, pegamos o horário dos mosquitos novamente e, sem repelente à mão, pois a Mônica havia ficado na Pousada com o frasco que compramos no dia anterior. Os insetos atacaram! Na entrada da Raizama, há um local de festas, com palco decorado com a imagem de figuras ilustres como Bob Marley, Janis Joplin, etc, arquibancadas ao ar livre, um galpão. Deve dar muita festa de arromba!

À noite, na vila, o microcentrinho ganha alguns ares mais sofisticados em meio à brejeirice acolhedora. Aos poucos fomos enxergando pousadas e restaurantes que acendem lampiões e lanternas nas entradas e pelas árvores, enfim, decorações mais bacanas. Nesta noite nos indicaram para jantar na Risoteria Santo Cerrado, acho que é a novidade da vila, pois estava lotada. Para achá-la tivemos que seguir um caminho iluminado dos lados por lanternas feitas de velas dentro de sacos de papelão (não sei como não pegavam fogo...). O ambiente é muito bonito, um sobrado todo aberto, avarandado, sem muitas paredes, em meio a um espaço bem ajardinado. Bandas excelentes tocaram nesta noite. O céu estava muito estrelado. Todo o ambiente e as mesas à luz de velas, somente. Pedimos risoto, é claro. Algumas especialidades da casa fizeram sucesso: funghi, caipira (com galinha e pequi), garimpeiro (carne de sol desfiada e abóbora). Voltamos para a Pousada ouvindo, ao longe, o som do forró que já começava ali por perto.

Dia 09 de junho - sábado
Acordamos novamente às 7h e fomos ao maravilhoso café da manhã da Pousada Cristal da Terra: tapiocas feitinhas na hora - sabores a escolher, ovos mexidos ou omelete preparados também individualmente, diferentes sucos, águas saborizadas, frutas, café, leite, granolas, cereais, muuuitos tipos de bolos - de pudim, milho, coco, chocolate, banana. E os pães - de batata doce, de centeio, de abóbora, de manga, inhame. Além disso, geleias, requeijão, manteiga. Enfim, a gente se forrava destas delícias e estava preparado para as aventuras do dia, que eram beeem puxadas. Saímos às 8h30, como no dia anterior. Às 8h50 a kombi já estava estacionada na entrada do Parque, estávamos cadastrados para entrar. O guia de hoje era Paulo, filho de garimpeiro, que já teve muito dinheiro do garimpo e depois perdeu tudo. Ele sabia bastante de plantas medicinais do cerrado, ia na frente num ritmo acelerado e quem quisesse ia seguindo a caminhada atlética.

A trilha do dia foi um pouco mais leve que a de ontem, mas tinha a mesma distância - total de 11 km e pouco. O calor é o grande problema, faz a gente cansar rapidamente. Após 4km e 760m; 1h45min de caminhada, chegamos ao primeiro grande atrativo da trilha - o Cânion 2. Impressionante a formação rochosa, pois a gente chega por cima, olha lá embaixo as cachoeiras do Rio Preto que formam um lago bem bonito e com águas bem geladas. O banho era muito refrescante, apesar disto, não sei se dá para dizer que valia a caminhada, que era muito desgastante! Uma coisa extraordionária para nós é que em todos os pontos de banho dentro do Parque havia 2 salva-vidas fardados e com guarda sol e boias. Os guias dizem que há disputa entre os bombeiros militares para ficarem de guarda nestes locais, pois nunca registram qualquer ocorrência - o pessoal que vai para este tipo de passeio é natureba, da paz, aventureiro, então, não acontecem brigas, bebedeiras e coisas deste tipo que em outros balneários é comum.

Seguimos depois para a Cachoeira Carioquinhas,excelente para o banho também. A água das cachoeiras sempre era ge-la-da, mas com o calorão que fazia, era impossível resistir a um mergulho, ou melhor, para a Mônica não foi, ela resistiu mesmo! Solaço, muito protetor solar, algumas bolhas no pé. Não dava muita vontade de comer os sanduíches do kit, no máximo ia alguma barrinha ou passas de banana e muita água.
Marcação do GPS da Portaria aos Saltos
Marcação do GPS das Carioquinhas até a Portaria

A tardinha caímos no conto das águas termais Éden. Nada seria melhor que uma água quentinha ao entardecer depois de um dia de caminhada. Talvez o problema seja a expectativa, sei lá, mas que a água morninha não satisfez ninguém, não satisfez.

À noite fomos num restaurante bem bacana, na mesma ruazinha da Pousada. Alguns ambientes eram de lounge, mesas à luz de vela, tudo no chão de terra batida. Pizzaria Lua de São Jorge. Vendiam até camiseta do restaurante. A fome era grande, a massa da pizza bem fininha. Devoramos 6 pizzas grandes; a melhor, sem sombra de dúvida, foi a de carne de sol. O restaurante coincidentemente pertencia a um Sr que é cliente do Cascata em Porto Seguro. Descobrimos isto pela propaganda no cardápio. Neste local também tinha música ao vivo, mas a de ontem era bem melhor!

Dia 10 de junho – domingo
Mais um delicioso café da manhã nos esperava desde às 7h. A Mônica acordou de madrugada para tomar um dorflex, pois não sabia qual parte do corpo doía mais - realmente as trilhas foram puxadas para nós duas que estamos sem atividade aeróbica no dia-a-dia. Arrumamos as malas e nos despedimos das cabanas Lua, Arara e Ipê Roxo. Malas prontas, a kombi seguiu a rota para Brasília, passando antes por algumas atrações.


A primeira delas foi o Vale da Lua, ainda na estrada de chão, a apenas 6km de São Jorge. O Vale da Lua foi votado como a atração mais impressionante da viagem. Paga-se R$ 10,00 por pessoa de ingresso, pois é uma propriedade particular. O Vale da Lua é um leito de rio todo em rocha que, segundo um folheto explicativo do local, surgiu de movimentos tectônicos, foi esculpido pela erosão durante milênios e que resultou em formas muito interessantes, perfurações, grandes panelões e um rio correndo por entre estas rochas, às vezes quase invisível, pois o leito era bem profundo. Quatro piscinas límpidas eram formadas ao longo do rio, muito convidativas, mas desta vez não fomos preparados para o banho, já que não pretendíamos demorar muito no trajeto de retorno ao Distrito Federal. Nos chamou a atenção o grande número de mulheres, jovens, viajando em grupo.

Ao sairmos do Vale da Lua o estacionamento já estava lotado, aliás, em todos os locais isto aconteceu. Chegávamos sempre cedo, antes das 9h, para aproveitarmos os espaços com pouca gente. Todas as atrações que visitamos no feriadão estavam cheias. A Pousada, por exemplo, somente fechava pacotes para os 3 ou 4 dias. Logo ao entrarmos na estrada de asfalto avistamos o Jardim de Maytréa, um local em que se tem uma bonita vista do cerrado, com o Morro da Baleia ao fundo, um campo em frente e muitos buritizeiros.

Uma arara azul fez a festa do Cascata, que aguardou pacientemente que ela saísse do seu ninho, feito em cima do caule de um buritizeiro sem a copa. Adiante, na estrada, almoçamos no famoso rancho do Waldomiro, recomendado em todos os guias e blogs que falam sobre a região. A maioria do pessoal comeu o prato típico, a famosa matula, que consiste de um feijão com uma paçoca de vários tipos de carnes, inclusive a carne de lata (!!!) desfiadas. A matula é servida acompanhada de vários itens, como abóbora, mandioca frita, tomate, arroz, etc. Alguns comeram o completo, outros pediram sem algum acompanhamento. O prato é forte e muito bom. Passamos por Alto Paraíso e circulamos de kombi pela cidade, que estava calma, pouca gente na rua. Perguntamos por algum ponto de artesanato, mas nos disseram que já estava fechado, funcionava apenas aos sábados e domingos pela manhã!!!! Bem, daí por diante, a viagem não teve atrativos ou intercorrências, seguimos a Brasília onde devolvemos a kombi, que de branca ficou avermelhada de poeira. No aeroporto tivemos que aguardar cerca de 3 horas até embarcar de volta ao frio do inverno portoalegrense.

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