terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Huaraz e Parque Nacional Huascarán

Dia 11 de janeiro, sábado
Partimos de Poa em um grupo de 8 pessoas - famílias Heineck Neves e Hess Prisco. O voo da TACA partiu pontualmente às 7h30min e a viagem foi muito tranquila, café da manhã bom, com frutas, sanduíche quente e ovos. Ver o altiplano boliviano e o Titicaca de cima não tem preço. Aterrissando em Lima vimos a aridez da região, as casas da periferia sem telhado, todas somente com a laje num visual meio pós guerra. No aeroporto éramos aguardados por dois carros da cia Europcar, que nos levaram até a oficina onde estava a van alugada previamente. Acomodados na van, saímos de Lima rumo ao norte, pelo litoral, passando pelos arredores feiosos da grande capital, depois por desertos e em seguida por lugarejos mais verdes, com plantações de frutas, algumas hortaliças e bastante cana e milho. Almoçamos em um pequeno restaurante de beira de estrada que oferecia desde coelho e "cuy" (porquinho da índia), até frango, carne de gado e opções vegetarianas. Provamos a primeira inka cola - fabricada a partir de capim cidró, bem doce e bem amarela. Seguimos viagem, pegando uma estrada para o leste, que começava a subir a cordilheira e serpentear por pequenos povoados onde os pastores com ovelhas e porcos, muitos usando seus coloridos trajes típicos, desviavam dos carros. A estrada seguiu até Huaraz sempre asfaltada e muito boa, nenhum ponto crítico. Fomos parados várias vezes por policiais que solicitavam documentação, perguntavam de onde éramos e instruíam a andar com os faróis acesos sempre. Chegamos em Huaraz às 20h30 (escureceu entre 18h45 e 19h) após percorrermos 396km e tomarmos alguns dramins. Levamos quase uma hora para encontrar a Morales Guest House, que estava reservada para duas ou três noites e era bastante elogiada por turistas como nós, "meio mochileiros". Percebemos que tudo fecha cedo, assim, o sr Morales nos levou até um ótimo restaurante de um hotel bem chique que fica na mesma rua. Jantamos muito bem, desta vez, sem Inka Cola e com um vinho peruano bastante bom. Para alguns a madrugada foi de algumas dores de cabeça, neosaldinas e visitas ao banheiro em função da aclimatação na altitude. Realmente a pousada do sr Morales correspondeu às expectativas, tinha ótimo banho quente, camas muito boas com cobertas fofinhas, tudo limpo e o café da manhã bem servido pela sra Giovana. Huaraz é uma cidade ao pé das montanhas, a 3.300 msnm, base para a exploração do Parque Nacional que tem as montanhas mais altas do país, inclusive a própria que dá nome ao parque, o Huscarán, com 6.768m. Muitos montanhistas ficam na cidade se preparando e esperando o melhor tempo para suas expedições. Huaraz não é nada bonita, as casas parecem em sua grande maioria inacabadas. Segundo o sr Morales, em maio de 1970 um grande terremoto, de grau 7.8 derrubou 90% da cidade, apenas as casas construídas com tijolos e cimento, que eram raras na época e estavam na rua ao lado da sua pousada, resistiram. A região sofre bastante com sismos, aliás, vários locais no Peru. Depois disto, as casinhas de barro foram diminuindo, mas nas partes mais afastadas do centro o povo ainda vive em simples e frágeis construções, algumas que mais parecem ocas no meio do campo e provavelmente servem de abrigo aos pastores por algum período. O centro de Huaraz é limpo, a praça principal muito cuidada e florida, mas os bairros deixam a desejar no quesito limpeza e estética. Poucas casas são pintadas e o visual, de longe, é de uma cidade cor de terra.


Dia 12 de janeiro, domingo
Tomamos café da manhã não muito cedo e saímos para conhecer as ruínas de Chavín de Huántar, que ficam a uma distância de 116km e exigem muita boa vontade dos visitantes, pois a estrada, apesar de nova, tem um longo trecho difícil, de chão, esburacado e que se deteriora com as quedas frequentes de barreiras e chuva. Havia algum trânsito, inclusive de ônibus de linha, o que atrapalhava a viagem nas curvas da cordilheira. Chavín de Huántar recebe investimento da UNESCO. Na entrada das ruínas, pagamos $10 (novos soles) por pessoa e contratamos um guia por $40ns, que deu muitas informações interessantes. O complexo todo tem 7ha e é composto por 2 grandes praças retangulares, uma praça redonda, um centro de peregrinações e celebrações, conforme estudos dos arqueólogos de diversas nacionalidades que pesquisam o lugar desde 1910. A civilização Chavín é a cultura mais antiga dos Andes e desenvolveu técnicas muito avançadas de construção para sua época - 1300 aC. Pirâmides altas com o teto plano, galerias dentro das construções, colunas decoradas com imagens de pumas, condores, etc, em baixo relevo. Esta é uma temporada baixa para o turismo, em função de ser época chuvosa e também porque as férias na Europa são em junho e julho. Vimos poucos turistas estrangeiros ao longo de toda a viagem pelo Peru. À noite telefonamos para os aniversariantes do dia: a sra Laurete, matriarca dos Prisco e o sr. João, patriarca dos Neves.



Dia 13 de janeiro, segunda
O café da manhã da sra Giovana é muito bom, com ovos, queijo, frutas variadas (inclusive de cactos, a tuna), pães, manteiga, geleias, café, leite e suco. Destino do dia: levando muito agasalho na bolsa, conhecer a Laguna Llaca. O que era para ser uma estrada, às vezes parecia o leito de um rio, pedregoso e estreito, sempre na beira de precipícios. A van batia de tudo quanto é jeito, nós, lá dentro, parecíamos liquidificar. Subimos muito além de Huaraz, enxergando até certo ponto a cidade de cima, depois, a perdemos de vista. Nunca passou qualquer veículo, aliás, ainda bem, pois não haveria lugar na estrada para dois carros sem cair montanha abaixo. Chegamos na entrada do Parque Nacional Huascarán, após 30km, onde uma cancela de bambus barrava o caminho e logo avistamos um guardaparque de moto. Ele nos disse que somente nós estávamos ingressando no parque neste dia. Pagamos a ele o ingresso, de $10ns, ele nos deu algumas orientações e continuamos uma trilha acidentada de carro até o final, onde estacionamos ao lado de uma estação de montanha que estava fechada. A partir dali caminhamos um pouco (e quase nos acabamos em função da altitude) para avistar os grandes nevados, a lagoa e a grande paisagem que se descortinava ao lado do mirador. Os homens e adolescentes do grupo seguiram mais uma hora e meia caminhando por uma trilha até a base do nevado, contornando a lagoa. Antes de sairmos do parque comemos sanduíches, frutas e chocolates preparados no kit da sra Giovana e voltamos à cidade. No centro de Huaráz caminhamos um pouco para conhecer o artesanato, bem sortido e de bom preço, em um grande mercado. Passeamos também pela praça central, muito bem cuidada, florida, onde uma chola vestida tipicamente estava acompanhada de uma pequena lhama e se oferecia para tirar fotos. Muita gente passeava neste local. Cambiamos dinheiro numa lojinha em frente à praça e jantamos em um restaurante onde o Ricardo comeu pachamanca serrana (um cozidão de humita, choclo, batata, carne de porco, rês e frango...).



Dia 14 de janeiro, terça
Novamente encomendamos kit lanche para a viagem, que seria beeem longa. Após nos despedirmos do Morales e da Giovana pegamos a estrada. Primeira parada: Yungai, a cidade sepultada após um tremor de 7.8 na escala Richter em 31 de maio 1970, à tarde, exatamente no dia em que abria a copa do mundo do México. Esta trajédia está bem viva na memória de muita gente na região, especialmente de um senhor que sobreviveu a este e outro terremoto anterior e que foi nosso guia no local. Ele nos contou detalhes daquele dia, em que perdeu seus 7 irmãos, pai, mãe e namorada. É muito impactante caminhar pelo local onde foi a praça, a igreja, sobre "25.000 almas" que ficaram enterradas, como dizia o guia. Na verdade, o que aconteceu foi que o terremoto, que durou apenas 35 segundos, provocou o desprendimento de uma geleira, que, caindo em uma lagoa acima da cidade, iniciou um aluvião e em menos de 3 minutos a mistura de terra, água e pedras chegou a Yungai. Os poucos sobreviventes foram as 300 pessoas, em sua maioria crianças, que estavam em um circo e outras pessoas que visitavam o cemitério, que fica em uma colina, bem acima da cidade. É interessante ver que com o passar do tempo, a terra está cedendo e algumas coisas começam a aparecer do chão, como um depósito de combustível do posto existente na época. Outra coisa que se vê é um ônibus totalmente retorcido, que foi parar em uma das poucas colunas de concreto armado existentes. As casas, como ainda hoje nesta região do Peru, eram na sua grande maioria construídas de adobe, muito frágeis e não resistiram ao impacto do aluvião. Somente sobraram 4 palmeiras na praça central. O socorro do governo demorou 4 dias a chegar, algumas pessoas ficaram ilhadas durante este tempo. Depois de 10 dias a Argentina enviou um avião com mantimentos, remédios, agentes de saúde e médicos e outra trajédia aconteceu - o avião se choca com uma montanha e todos morrem. Há um monumento homenageando este pessoal. As crianças, órfãs, foram adotadas por estrangeiros e agora, adultos, têm retornado para ver o local e fazer jazigos homenageando os familiares sepultados. Voltando à van, andamos mais um tempo em estrada asfaltada entre as cordilheiras branca e negra. Depois, iniciamos uma descida espetacular em estrada de chão junto ao Canyon Del Pato, formado pelo rio Santa. Esta estrada é considerada uma das mais perigosas do mundo. São 14km praticamente escavados nos paredões acompanhando o sinuoso rio em uma pista muito estreita, ao lado de abismos em que raramente passam 2 carros. Não vimos carros pequenos passarem, apenas caminhões enormes e caminhonetes de trabalhadores que mantinham a via ou uma represa bem grande que aparece a certo ponto do trajeto. Nenhum ônibus de linha ou de turismo, esta não é uma rota aconselhada ao trânsito, especialmente em épocas de chuva. Foram 50 túneis ao todo. Sempre que vinha algum carro no sentido contrário, e isto aconteceu inclusive em um túnel, em que vinham dois grandes caminhões, alguém precisava dar ré até encontrar um local para refúgio. Foi estressante. Seguimos caminho com muito deserto, muito chão, depois bastante asfalto, cansativo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário